A menina que não tinha namorado
Era uma menina que não tinha namorado. Não que não fosse bonita! Muito p’lo contrário! Era linda o bastante para a luz a invejar.
Aliás, foi por ser assim que foi amaldiçoada.
“Narcheu com um espirite mau!”, diziam.
Subitamente adormecia e com ela todos os músculos enrijeciam. E isto apenas acontecia quando excitada.
Saca-apitos e octopussy eram suas alcunhas.
Elas advieram de um acontecimento brutal. A manifestação do tal “espirite mau”.
Pois até então as excitações sempre estiveram ao abrigo de olhares exteriores aos seus.
Era o seu primeiro namorado a sério.
De mãos dadas passearam p’lo cinema. Depois de terem ido ao jardim.
Encontraram um lugar que acharam adequado para se sentarem e trocarem carícias.
Começaram a ensurdecer e a cegar ao mundo aparente.
A menina começou por descobrir o que fazia, mas principalmente, que gostava do que fazia!
Daí octopussy, visto que o namoradinho nunca tinha sentido nada igual. Qual criança em frente a uma mesa apinhada das melhores guloseimas, das quais algumas nem ele sabia que existiam.
Entre os dois foi engrandecendo o entusiasmo!
As línguas e todas as falanges efervesciam.
Sem ela saber como e sem ele esperar, a menina seguiu a linha do umbigo com a língua, e chegou onde nunca tinha chegado.
Abocanhou o que por lá encontrou.
No entanto a maldição estava à espreita. A excitação chegou ao ponto de sublimação.
A menina começou a empalidecer, a desfalecer. E por efeito cascata, todos os músculos se empederniram.
Os dentes semicerraram-se e levaram para dentro do aparelho bocal o que, já lá anteriormente estava, só que o era fixo ao corpo do namoradinho, agora é desagregado.
Aos sons de prazer que primeiramente sentira agora os de dor e horror tomavam o seu lugar.
A menina de nada se apercebeu.
Quando recuperou desse ataque demoníaco, já tinha sido julgada e condenada.
A sentença foi lida e executada.
Arrancaram-lhe todos os dentes e desraizaram-lhe toda e qualquer unha.
Será multada se for apanhada com postiços.
Agora não consegue comer pevides nem abrir conquilhas que tenham apanhado pouco lume!
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